Arara-azulPara conhecer mais sobre a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), objeto principal da pesquisa do Projeto Arara Azul, leia Características e Reprodução e Conservação. Você também pode aprender mais nos trabalhos publicados pelo Projeto e colaboradores em publicações.
Tamanho: Comprimento: até 1 m (da ponta do bico a ponta da cauda). Sendo a maior espécie no mundo da família Psittacidae. Peso: Adulto até 1,3 kg porém filhotes podem atingir até 1,7 kg no período de pico de peso. Coloração: Possui plumagem na cor azul cobalto, degradê da cabeça para a cauda, sendo preta a parte inferior da penas das asas e cauda. Possui amarelo intenso ao redor dos olhos (anel perioftálmico), pálpebras e na pele nua em torno da base da mandíbula. O bico é grande, maciço, curvo e preto, formando quase um círculo com a cabeça. A língua espessa e preta chama atenção pela faixa amarela nas laterais.
Alimentação: Araras-azuis são um dos psitacídeos mais especializados na alimentação constituída basicamente de sementes de palmeiras, que elas consegue quebrar facilmente com a potência do seu bico. Na região pantaneira, alimenta-se de acuri (Scheelea phalerata) e bocaiúva (Acrocomia aculeata). Na região paraense alimenta-se de inajá (Maximiliana regia), babaçu (Orbiguya martiana) e tucumã (Astrocaryum sp). Nas regiões secas, alimenta-se de licuri ou catolé(Syagrus coronata), piaçava (Attalea funifera), buriti (Mauritia vinifera) e Orbiguya eicherii. O local mais frequente de alimentação tem sido o chão, seja no campo ou nas proximidades das sedes de fazendas. Nestes casos, elas estão se alimentando da castanha-do-acuri, cujo mesocarpo (polpa) já foi retirado por outros animais, principalmente o gado e outros animais silvestres. No período de frutificação das bocaiúvas, elas são vistas se alimentando diretamente nos cachos.
A alimentação geralmente é feita em grupos, como forma de aumentar a proteção. Sempre há um indivíduo de sentinela que, a qualquer barulho ou movimento estranho, dá um grito e todas as araras saem voando. Os horários de forrageamento são mais frequentes no início da manhã, entre 06:00 e 10:00 horas, e no final da tarde, entre 14:30 e 17:00 horas. Reprodução e Conservação Comportamento: na natureza, as araras-azuis podem ser observadas voando ou com mais facilidade andando pelo chão, penduradas nos cachos de frutos das palmeiras ou pousadas em galhos secos das árvores ou ainda nos mourões de cercas e mangueiros. São encontradas em bandos de 10 a 30 araras, especialmente nas áreas de alimentação e nos locais denominados dormitórios (locais para descansar e dormir), como também em pares reprodutivos. Quando esses bandos são observados podemos verificar a alta socialização (interação) entre os indivíduos. É muito comum observarmos as araras vocalizando (parece que conversam umas com as outras), executam preening (um indivíduo coçando ou fazendo limpeza de penas no outro), brincam umas com as outras e com os galhos, flores, folhas das árvores que estão pousadas. Já na época reprodutiva é possível observar os casais alimentando-se e voando juntos, geralmente são fiéis ao parceiro e dividem a tarefa de cuidar dos ovos e filhotes.
Sítios de Nidificação: As araras-azuis não parecem selecionar ninhos com características padronizadas, como forma e tamanho das cavidades, orientação das aberturas, etc, mas mostram preferência por árvores que se destacam da vegetação, localizadas nas bordas de cordilheiras ou capões e com cavidades mais acessíveis. Na região do Pantanal, 90% dos ninhos são encontrados nas árvores de manduvi. Essas árvores de tronco grosso e cerne (interior) macio, facilita a formação do ninho. As araras-azuis são escavadores secundários. Elas aproveitam pequenas cavidades abertas por pica-paus, cupins ou fungos, como também locais onde houve a quebra de um galho para aumentar a cavidade e depois forrando com serragem, constroem o seu ninho. Por esta característica elas podem ser chamadas de engenheiras ambientais. Ao fazerem os seus ninhos, as araras acabam fazendo ninhos para outras espécies como tucanos, gaviões, corujas, pato-do-mato e outros. No entorno do Pantanal, na região de Aquidauana e Rio Negro e no Piauí, na Chapada das Mangabeiras foram encontrados ninhos de araras-azuis nas falhas de paredões rochosos. No Pantanal tem aceitado e se reproduzido nos ninhos artificiais, confeccionados em caixa de madeira, pelo Projeto Arara Azul. A maioria dos ninhos podem ser reutilizados de ano para ano. Elas sempre forram a base do ninho com serragem que beliscam da própria árvore. Isto faz com que a base dos ninhos, fique cada vez mais funda. O Projeto já encontrou ninho cuja base estava distante a quatro metros da abertura. Nesse caso, o filhote não conseguiu sair, ficando preso dentro do ninho durante um ano, sendo alimentado pelos pais até que o ninho foi manejado, com a abertura de uma janela mais próxima da base do ninho. O filhote foi retirado e como estava com as penas da cauda e das asas danificadas, não podendo voar, foi levado para o CRAS – Centro de Reabilitação em Campo Grande até que se recuperasse. Reprodução: após a formação do casal, passam a maior parte do tempo juntos dividindo todas as tarefas. Em julho começam a inspecionar e reformar as cavidades, para o período de reprodução que está começando. O pico de reprodução pode variar, mas em geral acontece de setembro a outubro, sendo que a criação dos filhotes pode se estender até janeiro ou fevereiro do ano seguinte. Nesta época é comum ver a disputa por ninhos entre as araras-azuis e também com outras espécies. Cerca de outras 17 espécies ocupam ninhos artificiais desenvolvidos pelo Projeto Arara Azul. A taxa de reprodução é baixa e alguns casais só se reproduzem a cada dois anos. A fêmea costuma botar de 1 a 3 ovos em dias diferentes, a média encontrada é de 2 ovos. É ela que fica no ninho, chocando os ovos, sendo nesse período alimentada pelo macho. O período de incubação do ovo é de 28 a 30 dias. Estudos mostram que a taxa de eclosão do ovo (nascimento do filhote) é de 90%. Os ovos podem ser predados por caracarás, quatis, tucanos, gralhas e gambás, e a taxa de predação varia de 20 a 40%. Os filhotes nascem em média com 31,6 gramas e 82,7 mm. Nessa fase, os pais saem para buscar alimento para que os filhotes cresçam e ganhe peso rapidamente. Até 45 dias de vida, os filhotes estão sujeitos a predação por formigas, tucanos e gaviões. Entretanto, o maior índice de mortalidade, ocorre até o quinto dia de vida do segundo filhote. Quando a diferença de idade entre o primeiro e o segundo filhote é maior que cinco dias, geralmente, o segundo filhote não sobrevive. Aproximadamente com 107 dias de vida (3 meses), os filhotes voam. Não voltam mais para dentro dos ninhos mas podem ficar nas proximidades ou voar para longe acompanhado os pais. Nessa fase ainda são alimentados pelos pais, mas também é quando começa o aprendizado dos filhotes. Aprendem onde e o que comer, onde podem dormir, a se defender de predadores. A partir dos 9-10 meses de vida, os filhotes já estão aptos a se alimentarem sozinhos, mas alguns ainda acompanham os pais por 12 ou 18 meses, quando então eles entram para os bandos de jovens e deixam os pais livres para se reproduzirem novamente. Somente com 7-9 anos de vida é que esses filhotes iniciarão a sua vida reprodutiva, formando casais e criando a sua família. Para exemplificar a baixa taxa reprodutiva das araras-azuis, dos 106 ninhos naturais monitorados em 1997, 70% (N=74) foram ativos 50 casais botaram ovos, dos quais 09 foram predados. O restante produziu 57 filhotes dos quais 44 voaram com sucesso. Tamanho da população: É impossível saber quantas araras havia originalmente, mas sabe-se que era uma espécie abundante no início do século. Infelizmente, hoje devem existir mais araras-azuis em cativeiro que em vida livre. Atualmente indícios da ocorrência de araras-azuis na natureza são encontrados em três locais: Pantanal, “Gerais” ou Brasil Central (nos estados de TO, GO, PI, MA e BA) e norte do Brasil. Resultados de alguns levantamentos de campo totalizam uma população de aproximadamente 6500 indivíduos assim distribuídos: 1) Pantanal com cerca de 5000 araras é a que se encontra em melhor situação na natureza. No Mato Grosso do Sul Guedes (2003) estima 4000 araras sendo que a população tem aumentado e expandido. No Mato Grosso, trabalho de Pinho (1998) estima cerca de 800 indivíduos. Na Bolívia tinha praticamente acabado e voltou a aparecer, com cerca de 150-200 indivíduos, segundo Dammermann (2000, comunicação pessoal e relatório não publicado). No Paraguai só há relatos de alimentação na região vizinha ao Pantanal Brasileiro. No Brasil Central com cerca de 800-1000 araras-azuis, segundo levantamento realizado por Bianchi et al (2002). Esta população é uma das mais críticas no momento, pois é afetada pelo tráfico, em especial no Sul do Piauí e Maranhão. Retiram ovos, filhotes e adultos e há um avanço da fronteira agrícola com retirada da vegetação nativa para plantio de soja. Na região Norte do Brasil, aproximadamente 500 araras-azuis, incluindo os estados do Amazonas e Pará, podendo haver uma lacuna entre as populações do dois estados. Nesta região as araras-azuis não têm sido estudadas nos últimos 20 anos. Levantamento mais recente foi realizado por Sherer-Neto (2004, comunicação pessoal). Até recentemente, as araras eram afetadas pela coleta de penas para confecção de artesanato indígena e pelo desmatamento para pecuária e agricultura. As referências completas destas bibliografias são encontradas em Guedes (2004), artigos complets em publicações técnicas em pdf. Ameaças encontradas pela espécie: os principais fatores que levaram as araras-azuis a ameaça de extinção foram: 1) a captura ilegal para o comércio nacional e internacional de aves de estimação, que foi intensa até a década de 80 (ovos, filhotes, adultos); 2) a destruição do habitat (perda, fragmentação, descaracterização) principalmente com a implantação de pastagem cultivada no Pantanal, agricultura e colonização em outras regiões; 3) a caça e coleta de penas para artesanato indígena (no Brasil está proibida desde 2005, sendo permitido apenas para cerimônias e outros usos dentro das reservas indígenas). A estes fatores, acrescentam-se populações pequenas, baixa taxa reprodutiva e especialização na dieta e no hábitat. O Comitê é um grupo assessor do IBAMA, que trata do manejo “in situ” (na natureza) e “ex-situ” (em cativeiro) de Anodorhynchus hyacinthinus, integrando pesquisadores e instituições que exercem atividades relacionadas com a espécie e seus hábitats. O Comitê é composto pelo Coordenador Geral de Fauna, Coordenador de Proteção de Espécies da Fauna e Chefe do Centro de Pesquisas para Conservação das Aves Silvestres, todos do IBAMA, mais um representante da Sociedade de Zoológicos do Brasil (SZB), um representante da Sociedade Brasileira de Ornitologia (SOB) e técnicos especializados como Neiva M.R. Guedes, Pedro Scherer Neto, Yara de Melo Barros, Cristina Y. Miyaki. O Comitê é presidido pelo Coordenador Geral de Fauna/IBAMA, sendo que as atividades de campo relacionadas à espécie são coordenadas por Neiva M. R. Guedes. O comitê tem por objetivo o estabelecimento de estratégias para estudo, manejo e conservação da arara-azul-grande Anodorhynchus hyacinthinus objetivando alcançar o estabelecimento de populações geneticamente viáveis desta espécie. Propor ao IBAMA o Plano de Ação para a conservação da espécie, que embasará a atuação do Instituto no acompanhamento da implementação das atividades previstas. O comitê se reúne pelo menos uma vez, a cada dois anos. | ||||||||||||||||||||||
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