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Célula sintética: as possibilidades e os riscos que estão em jogo


Atividade: 5457 - Célula sintética: as possibilidades e os riscos que estão em jogo
Descrição: A caminho da vida artificial. Cientistas criam primeira célula sintética.

Por enquanto, o principal resultado da criação de células artificiais em laboratório, anunciada quinta-feira, foi dar vida à imaginação humana. A confirmação de que se pode desenhar um genoma e colocá-lo para viver abriu um mundo de possibilidades que parecem não ter limites – para o bem e para o mal. Mas a realidade é que as aplicações vão levar anos para aparecer e poderão ser, no começo, menos espetaculares do que as especulações atuais.

– É como a história dos clones. Quando eles surgiram, as pessoas fantasiaram muito, e o assunto foi parar até em novela – lembra a professora de genética Clarice Sampaio Alho, da PUCRS.

O geneticista Victor Hugo Valiati, professor da pós-graduação em Biologia da Unisinos, fala em 10 a 15 anos para os resultados começarem a fazer parte da vida das pessoas. Ainda que demore e que nem tudo seja alcançado, as implicações da nova técnica são poderosas. Confira nesta reportagem as possibilidades e os riscos que estão em jogo.

Fonte energética

Uma das potencialidades da célula sintética é a de revolucionar a produção de combustíveis. A equipe que desenvolveu a nova técnica já está pesquisando a criação de algas que absorvam dióxido de carbono e o convertam em combustível. Existe a possibilidade de programar o genoma de uma bactéria de tal forma que ela seja capaz de produzir álcool em grande quantidade, a partir de algum tipo de material. Hoje esse processo é feito pela fermentação de produtos como a cana-de-açúcar – um processo caro e que demanda a ocupação de grandes áreas de terra. Em tese, a utilização de células sintéticas poderia otimizar o processo de fermentação e garantir combustível mais abundante e barato.

Proteção ao ambiente

bomba-relógio do aquecimento global poderia ser desmontada com o uso das células artificiais. Para isso, seria necessário desenvolver um genoma que programasse as bactérias a absorver o dióxido de carbono, responsável pelo aquecimento. Uma possibilidade é que essas bactérias sejam programadas para quebrar as moléculas de gás carbônico, devolvendo-as ao ambiente na forma de carbono e oxigênio.

Os pesquisadores explicam que as enzimas – proteínas que aceleram reações químicas – sintéticas poderiam permitir que se apressasse reações, como a degradação de manchas de óleo no oceano.

Melhoria na saúde

Um novo tipo de vacina pode vir a ser criado com o uso da nova tecnologia. O desafio seria programar bactérias a produzir substâncias que, uma vez injetadas no organismo, acabassem se ligando a vírus específicos e atacando-os.

Outra aplicação é a de produzir, via bactérias construídas artificialmente, substâncias com capacidade de regenerar tecidos, permitindo a reparação de lesões. Uma terceira esperança é de que seja possível produzir em larga escala em laboratório, por exemplo, pele com índice baixo de rejeição para transplantes.

Alimentos mais nutritivos

A nova tecnologia abre espaço para que proteínas difíceis de se obter na natureza sejam sintetizadas por células artificiais e adicionadas a alimentos como o leite e a farinha, tornando-os mais nutritivos. O resultado seria uma humanidade melhor alimentada. A produção de proteínas existentes na carne, por exemplo, poderia ser sintetizada e adicionada a outros produtos alimentares, beneficiando vegetarianos e pessoas sem condições econômicas de consumir carne.

Armas biológicas

A aplicação mais facilmente alcançável é o desenvolvimento de armas biológicas. Enquanto para outros usos serão necessários muitos anos de pesquisas, o uso bélico é algo relativamente próximo. Basta programar células para produzir toxinas. Como já se conhecem muitas moléculas capazes de realizar esse processo, o risco é real. A perspectiva, inclusive, é de que seja possível produzir armas biológicas programadas para destruir uma só espécie, poupando as outras.

Mutações perigosas

As espécies evoluem. Quanto mais rápida sua reprodução, mais mutações ocorrem. Nas bactérias, a multiplicação é em ritmo acelerado. Elas dobram de número a cada 20 minutos. Isso significa que, no caso de um organismo sintetizado sair para o ambiente, ele pode, por meio de mutações, assumir características diferentes das originais, escapando ao controle humano. A própria luz solar produz mutações em bactérias. Mesmo que esses organismos tenham sido programados para morrer pelo uso de algum antibiótico, sua rápida reprodução pode gerar em tempo curto uma cepa mutante resistente. Nesse caso, seria como se uma nova espécie – com efeitos desconhecidos e potencialmente perigosos, como a propagação de doenças – fosse introduzida no mundo.

Dilemas éticos

As células sintéticas significam que uma vida que não existiria naturalmente foi criada em laboratório, de forma artificial. A experiência abriu a perspectiva de criar formas de vida nova, feitas inteiramente de material não vivo. Isso levanta questões éticas e filosóficas complexas, põe nas mãos da humanidade a responsabilidade de intervir ou não no equilíbrio do ambiente e gera o risco de que se lidem com forças que não são inteiramente conhecidas.

Abalo às crenças

As crenças religiosas terão de ser capazes de absorver as implicações do avanço científico, segundo os especialistas ouvidos por Zero Hora.

Em última análise, homens fizeram dentro do laboratório o que muitos crentes acreditam que só Deus pode fazer: criar vida.

Por meio da pesquisa divulgada na quinta-feira, provaram que a vida não precisa de uma força divina e inexplicável para surgir.

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Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br

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