A chance dos raios atingirem duas vezes o mesmo lugar ao acaso é pequena, mas existe. Segundo Sílvio Dahmen, professor de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é apenas uma questão de probabilidade. Como há vários locais onde os raios podem atingir, e isso depende de condições atmosféricas ideais, é muito pouco provável que dois raios sejam observados atingindo um mesmo local.
Dahmen explica que os raios são descargas de eletricidade atmosférica. "Da mesma maneira que, ao esfregarmos nossos pés num carpete, geramos eletricidade estática e depois a descarregamos ao tocar num objeto metálico, gotículas de gelo ou água ficam eletricamente carregadas pela convecção na atmosfera - ou seja, pelo movimento ascendente de ar mais quente e descendente de ar mais frio.
Quando uma nuvem eletricamente carregada passa sobre a Terra, ela induz cargas de sinal contrário na superfície. Se a diferença de potencial entre a nuvem e o solo for grande o suficiente, há uma ionização- íons são átomos ou moléculas eletricamente carregadas - do ar próximo à nuvem. Este canal iônico, à medida que cresce, pode fazer contato com o solo, criando uma espécie de fio pelo qual a nuvem pode descarregar: um raio". Mais sujeitas a correntes de convecção, as regiões tropicais registram a maior incidência de raios, diz o professor.
Objetos pontiagudos como para-raios, árvores ou até mesmo pessoas, caso estejam em local aberto e descampado, podem atrair descargas elétricas. A explicação é que a ionização é mais forte nas pontas - onde os campos elétricos são mais intensos. Por isso é recomendável não ficar em pé durante tempestades com raios, em praias e áreas descampadas.
"Alpinistas que utilizam picaretas também servem muitas vezes como para-raios. O processo anterior ao raio, o da ionização, é o mesmo pelo qual funcionam as lâmpadas fluorescentes. Por esse motivo os alpinistas sabem que quando sua picareta começa a brilhar, devem encostá-la o mais rápido possível na rocha, para que não fique com a ponta no ar. O mesmo ocorria no mastro dos navios, motivo de grande temor entre marinheiros", diz Dahmen.